Não sou mais um empresário!

 

Não sou mais um empresário, não sou mais um empreendedor… Sou apenas um Zaqueu.

 

Vivia eu todo animado, feliz e contente em saber que certo dia tive uma ideia brilhante. Ao colocá-la em prática, me tornei um empreendedor, ao executá-la continuamente me tornei um empresário e ao ter boas e péssimas  ideias, boas e péssimas execuções, ganhei experiência e não necessariamente nesta ordem a empresa cresceu.

Centenas de empregos diretos foram criados, milhares de novos negócios nasceram através dos equipamentos e produtos que um dia, aquele garoto de 17 anos, resolveu oferecer ao mercado.  Felicidade e satisfação em saber que nesta hora , em algum lugar de norte ao sul do Brasil existe uma empresa de comunicação visual utilizando algum produto SID.

Eu agora com 42 anos, não mais um garoto iludido (quisera eu continuasse sendo), prestes a completar 25 anos de empresa, percebo entristecido que não sou mais um empresário, não sou mais um empreendedor, tampouco faço parte dos mocinhos, parte dos bons, agora, eu sou o vilão. Fui rebaixado para a pior de todas as profissões, a mais odiada desde os primórdios da humanidade.

 

 

Levando em consideração a carga tributário existente nos produtos que eu vendo, em uma conta bem simples, sem aprofundar demais ou causar polêmica, temos 15% de IPI, 14% de II, 18% de ICMS, 7 % de PIS, 2,25% COFINS, 15% de IR e 9% CSLL, totalizando aproximadamente 60%, uma vez que alguns impostos são um sobre o outro e outros, somente sobre o lucro. Aliás, lucro o qual desejo que seja de 10%. Mas, para colocar meu produto no mercado, tenho que ter uma equipe feliz e motivada, talentos que custam e valem cada vez mais e deles o governo ainda cobra o IR e INSS e meu, o INSS e FGTS; Ainda preciso de uma infra estrutura com lojas bem localizadas as quais têm custos de locação altíssimos, impostos municipais e entregas pontuais com frota própria e terceirizada, estrutura contábil monstruosa para fazer as contas dos impostos e o mais importante, ser parceiro de meus clientes (leia-se: aceitar pacientemente que eles atrasem os pagamentos), essa parte totaliza 30%, que nada mais é “o custo da operação”.

 

Voltando a conta simples, eu preciso investir 100% do dinheiro por minha conta e risco para que eu consiga obter dez reais de lucro, trinta reais para o custo da operação e sessenta reais eu coletarei para o Governo, tendo ou não recebido dos meus clientes. Logo, imaginando que não sou eu quem paga estes impostos, já que de uma forma ou de outra eles estão embutidos no preço, eu na verdade não sou empresário, sou apenas um Zaqueu, o coletor de impostos citado na Bíblia.

Certa vez, quando Jesus chegou em Jericó, escolheu se hospedar na casa de Zaqueu. Todos então, ficaram chocados, por ele ficar na casa de um pecador, coletor de impostos de Roma. Zaqueu se converteu, doou metade de seus bens e não sei se parou ou não de coletar impostos já que a Bíblia não menciona este importante detalhe .

Pensando melhor, eu sou pior que Zaqueu. Ele ao menos tinha consciência de sua profissão sendo ela feia ou bonita. Eu não, pois pensava ser apenas um empresário, feliz e contente…

Hoje sou um coletor de impostos, onde para cada moeda que busco para mim, coleto seis para os cofres do Governo. Sou um Zaqueu disfarçado, sou um agente secreto, sou o agente 171 do Governo, inventando novos produtos para que ele possa arrecadar cada vez mais e mais.

Ultimamente está cada vez mais difícil encontrar a minha moeda e muito mais fácil acabar dando mais do que seis ao Governo… Confesso que não sei onde vamos parar… Todavia, agora tenho consciência de quem eu sou e assim posso buscar novamente quem exatamente eu quero ser.

 

 

 

 

Sidney Santos – palhaço de circo, vendedor, empresário, empreendedor, escritor, palestrante, coletor de impostos – não necessariamente nesta ordem

 

3 Comentários para “Não sou mais um empresário!”

  1. sapo Diz:

    pior é saber que esses recursos alimentam a rede de corrupção intalada em nossa patria. sou a favor do imposto unico , mas ai fica dificil de desviar…o governo jamais vai querer
    por isso que tanta gente sonega impostos nessa terra.
    imagina se ela pudesse ser administrada por alguem como vc
    mas um dia a gente da um basta nesses bostas

  2. judith Diz:

    Bela analise. Fria , profunda e verdadeira. Nos faz pensar: “O que realmente queremos ser??” Ó duvida cruel.Mas apesar de tudo seja sincero: Vc se arrependeu??? De certo, não. Na balança, pode apostar, sobraram mais saldos positivos, e não falo somente do dinheiro (que na minha opinião é parte mais que fundamental). Vc é um vencedor, este é o saldo. parabens. bjs

  3. Junião Diz:

    … eu ia dar a ideia de um produto totalmente inovador, mas depois do que li acho melhor deixar pra la !!! … rsrsrsrsrs

Comente Este Post