Sidney Santos

Nasci em 1971, no Circo Sulamérica. Circo lindo, afinal eu nunca tinha visto outro; circo enorme, afinal eu era tão pequeno. A lona era toda furada e aqueles milhares de furos por onde a luz da noite passava, azia
com que a lona de meu doce circo mais parecesse um céu de planetário. Pena que nos planetas
gigantes a água passava direto quando chovia, fazendo com que eu e o público acordássemos.
Recentemente li no belo livro “Circo Nerino” (Editora Códex) que um palhaço de circo se descobre por volta dos cinco anos de idade. A criança, devidamente maquiada e trajada, é quase que empurrada ao picadeiro e caso não volte chorando, tá pronto: é um verdadeiro palhaço circense, aqueles que gente de circo costuma dizer “que tem serragem nas veias”. Pois bem, eu fui um desses privilegiados. Meu pai pintou a minha cara, me vestiu e me empurrou no picadeiro, e eu virei o palhaço Leiteninho, assim, escrito tudo junto para não fazer merchandising, afinal nem sabia que era marca, na verdade adoro este
leite e comia aos potes, daí o nome.

Meu pai fez tudo certo, só esqueceu de me falar sobre a opção, aquela do livro acima. Ele me disse assim: vai lá filho, a partir de agora você é um palhaço, um excelente palhaço, vá lá e mostre a todos. E eu não sabendo que podia desistir… vivi a melhor fase da minha vida onde, até os 13 anos de idade, fui uma das estrelas do circo Sulamérica.

Passado algum tempo, após diversas experiências profissionais que abordarei numa próxima vez, tinha 16 anos de idade e trabalhava como representante de vendas em uma indústria de acessórios para motocicletas chamada Circuit.

Para ir visitar os inúmeros clientes, usava minha linda e bela moto e como não tinha habilitação,
pois era menor, só mesmo sendo de circo. Quase 20 anos atrás chovia muito em São Paulo, e foi num “belo dia” desses que me preparei para visitar um de meus clientes que se distanciava uns 60 km.
Acordei cedo, tomei um bom banho e vesti minha melhor roupa. Coloquei meu macacão de chuva, minhas polainas, minha bala clava, meu capacete, meus óculos, minhas luvas, ensaquei meu mostruário
(para não molhar), prendi no bagageiro de minha CG 125 e me dirigi para o cliente debaixo daquela tempestade.

E assim, após mais de uma hora de trânsito intenso, chegava ao meu cliente (uma imponente concessionária Honda em São Paulo). Estacionei minha moto, retirei o capacete, os óculos, minhas luvas, a bala clava, meu macacão, as polainas, arrumei meus cabelos (que na época eram fartos), limpei o rosto, desensaquei meu mostruário, (tá cansado de ler? Imagine eu de fazer) retirei minha pasta de vendas e me dirigi à simpática garota no balcão para atendimento: “Bom dia Claudia, lembra-se de mim, sou o
Sidney da Circuit, vim te visitar e gostaria de saber se está precisando de algo hoje?”

Ela então tranqüilamente respondeu: “Hoje não Sidney, não quero nada mesmo, obrigada”.
Sabe gente, não tinha Cristo que me fizesse voltar, vestir toda aquela parafernália novamente e ir embora sem um pedido sequer. Eu conversava sobre outros assuntos, ia abrindo meu mostruário, apresentando
as novidades e finalmente vendia.

Eu não tinha opção, ou pelo menos ninguém me falou que eu tinha, e hoje, agradeço ao meu pai por isto.
O que fazia a minha viagem valer a pena era a dificuldade que enfrentava para ir e para voltar, e não a facilidade que tipicamente os vendedores buscam.

E quando estes escutam um: “Não, obrigado”, relaxam… Afinal o esforço não foi tão grande mesmo.
Logo, o que aprendi é o que eu vos passo agora: caso um dia, vocês tenham um cliente difícil, aquele que não lhe dá atenção, aquele que você nem consegue expor seus produtos ou idéias…
espere chover e vá de moto.

Sidney Santos

5 Comentários para “Sidney Santos”

  1. samuel Diz:

    É isso aí! Gostei muito!

  2. Lando Balacci Diz:

    Gostei muito da sua tragetória ao sucesso. Li na exame a matéria “todos dizem não” e acho sim que só poucos sabem ver o não uma grande oportunidade.
    Mais sucesso a você!

    Abs

    lando

  3. Andresa Diz:

    O topo pertence àqueles que acreditam e que não desistem, e que encaram os obstáculos como oportunidades e os sonhos como rascunho para desenhar sua realidade.

    Sucesso!

    Andresa

  4. Arianne Diz:

    Parabéns.
    Realmente é um exemplo de perseverança, muitos em meio as lutas, não tem a paciencia de esperar e é ai que deixa passar diante dos seus olhos, a grande oportunidade de se tornar, um grande empresario…

    Sucesso !!!

  5. jaqueline Diz:

    Sidney:

    Admiro muito sua trajetória de vida, você é um exemplo para todos. Adorei seu livro e já o li por duas vezes. Continue assim com sua garra e alegria de viver.

    Parabéns!

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